1. CONVIVENDO COM
A CULPA
A culpa é normal
e intensa nas primeiras horas após o acidente. Em certas
situações podem durar anos ou a vida toda. Muitas
vezes, a culpa se dá pela ausência dos pais no momento
do acidente, mas esse sentimento rapidamente se dissipa com a
presença intensa no momento do atendimento médico
e durante a recuperação da criança.
2. OS ACIDENTES DENTRO DE CASA
Um dos acidentes mais
comuns são as quedas. Em casa devemos cumprir as orientações
para crianças semelhantes àquelas reservadas aos
idosos: os tapetes devem ter tiras emborrachadas antiderrapantes
e as escadas devem ter redes ou grades nas laterais, que não
permitam a passagem da criança. As redes de segurança
são muito úteis, pois muitos pensam que só
podem ser postas em janelas, mas sua facilidade de instalação
dá margem à criatividade. Devemos evitar os pisos
molhados e caso façam uma reforma, atentem para os pisos
com muitas saliências, pois facilitam os tropeços
e comumente causam cortes em cabeça e membros.
Quando a criança começa
a andar os riscos aumentam muito. São extremamente comuns
os traumatismos da cabeça em quinas e mesas. Não
existe nada melhor para prevenir do que a supervisão direta,
mas a utilização de protetores de silicone para
quina de móveis pode minimizar esse risco, pois são
adesivos e não estragam os móveis.
Queimaduras elétricas
também são comuns e as consequências podem
ser drásticas, como amputação desde falanges
dos dedos até as mãos, além do risco de parada
cardiorrespiratória. Felizmente a quantidade de dispositivos
para ocluir as tomadas disponíveis no mercado é
muito grande e o preço atende até as camadas de
mais baixa renda. A normatização de plugues e conexões
elétricas mudou para melhor, com dispositivos que impedem
a criança de tocar na parte desencapada do plugue, mas
ainda levará tempo para estar disponível em todos
os lares.
Fios desencapados também
são problemáticos, pois as crianças são
muito curiosas. Ao colocar a mão em um fio desencapado,
a descarga elétrica faz com que a mão se feche ¨em
garra ¨, contraindo a musculatura e perpetuando o tempo de
descarga até a intervenção de um adulto com
a interrupção do circuito elétrico.
Outras duas situações
relacionadas às queimaduras merecem destaque. A primeira
é o acidente com ferro elétrico e a segunda é
o contato das mãos com o forno quente. As crianças
pequenas e principalmente os bebês ainda não tem
desenvolvido o reflexo involuntário que os adultos possuem
de retirar a parte do corpo quando em contato com superfície
quente. A criança chora, mas não tira a mão
da fonte de calor, piorando cada vez mais a queimadura. Para prevenir
estas lesões, os ferros elétricos devem ser guardados
em locais altos e bem fixos, fora do alcance de crianças
- existem no mercado suportes próprios e decorados com
essa finalidade. Quem nunca viu um ferro quente sendo colocado
para esfriar no chão?
Quanto ao forno quente, a medida
mais eficaz são os portões de grades, que se adaptam
às portas, impedindo a sua abertura. Mas a criatividade
ganha espaço com o uso de anteparos na frente do forno,
como caixas de papelão ou bancos que possam obstruir a
passagem dos pequenos. Modelos modernos de cozinha planejada utilizam
o estilo de “coocktop”, onde o forno fica desvinculado
dos queimadores e pode ser instalado sobre uma bancada ou em um
móvel mais alto.
O fogão também
se torna perigoso durante a fervura de água ou com panelas
ou frigideiras contendo óleo quente. Deve-se utilizar mais
frequentemente as bocas traseiras e os cabos das panelas devem
sempre estar virados para o centro do fogão. É fundamental
transmitir essas informações às empregadas
domésticas e babás. Uma boa dica é deixar
lembretes de forma amigável para que estejam sempre atentas.
3. O PERIGO TAMBÉM ESTÁ NAS ÁREAS
EXTERNAS
Para tranqüilizar os
pais que possuem piscina em casa, a prática da natação
deve ser estimulada nos primeiros anos de vida, mas isso não
é tudo. A criança não percebe seus limites
e riscos de um mergulho mais fundo ou de uma distância maior
que sua capacidade. A melhor forma de prevenção
é o monitoramento e a visualização direta
com orientação em 100% do tempo. As bóias
de braço são muito úteis para os menores,
mas podem escorregar facilmente. Os coletes são mais seguros,
mas a criança perde mobilidade e se defende menos de outros
agentes. A colocação de redes de proteção
e portões que limitem o acesso à área da
piscina também são instrumentos excelentes de proteção.
É importante ressaltar que crianças até 5
anos que já saibam nadar ainda necessitam de vigilância
permanente.
4. ACIDENTES NOS AMBIENTES FORA DE CASA
Equipamentos de segurança
para a prática de esportes radicais como capacetes, joelheiras,
cotoveleiras, protetores bucais são absolutamente necessários,
principalmente para o skate e ciclismo.
Várias casas
de festas infantis oferecem brincadeiras como tirolesas, escaladas
ou arvorismo. Comumente os monitores são adolescentes e
o uso dos equipamentos de segurança nem sempre é
adequado. Antes de deixar seu filho entrar na fila de um entretenimento
deste porte, verifique a segurança e se o monitor está
adequadamente familiarizado com o equipamento e usando-o de maneira
correta.
Cada vez mais são
lançados novos jogos de equipe para as crianças
em festas infantis e dois deles merecem destaque pela popularidade.
O primeiro é o ¨ futebol de sabão ¨ , brinquedo
inflável que simula uma quadra de futebol, utilizando água
e “sabão em pó”, onde as crianças
se lançam num futebol escorregadio e que propicia as mais
variadas contusões e fraturas, sem contar a abrasividade
do sabão em pó, que provoca queimaduras de 1º
e 2º e reações cutâneas após longo
tempo de exposição. O segundo brinquedo está
presente em dois shoppings do Rio de Janeiro, e consiste em uma
bola de plástico inflada com vento quente, dentro da qual
a criança é colocada sendo a bola então lançada
em uma piscina com bordas de encanamento de ferro. As crianças
ficam correndo dentro das bolas (como ratos de laboratório)
e, numa eventual queda, podem bater suas cabeças nas bordas,
além do risco de síncope (desmaio) por falta de
oxigenação adequada no interior da bola. Esse brinquedo
foi amplamente utilizado nas férias do meio do ano de 2009.
O objetivo desse artigo
não é apavorar os pais, mas alertá-los quanto
aos riscos, nem sempre perceptíveis. Lembrem-se: "o
melhor remédio para os acidentes do lar com crianças
é a prevenção e observação
constante dos filhos". |